🔗 Ah se o trabalho fosse síncrono como uma orquestra

Ah, se as entregas fossem síncronas como uma orquestra

Os músicos sobem ao palco. O maestro se posiciona. Os profissionais (músicos) começam a fazer as suas entregas (tocar seus instrumentos). De repente, algo soa atravessado: a orquestra está desafinada. 

O flautista arregala os olhos. O pianista engole seco. O maestro afrouxa o colarinho. A entrega da equipe está comprometida.

Os ouvidos treinados dos músicos rapidamente fazem o diagnóstico: o terceiro violinista está errando o tempo, causando desarmonia.

Por sorte é apenas um ensaio...ufa! 

Ao final do dia de muito trabalho, outros colegas violinistas convidam o terceiro violinista para ensaiarem juntos, nas suas casas. Eles se dispõem a ajudar com a partitura e a alinhar os tempos da nova peça.

“Nossa, Sheila, como esses colegas são solícitos!”, você diria. E minha resposta é: Sim, realmente, geralmente músicos são muito solícitos. E você poderia imaginar por quê? Primeiramente porque são bons seres humanos e bons profissionais. Mas, principalmente, porque todo o seu esforço e dedicação pessoal em centenas de horas em ensaios de nada adiantará se um de seus colegas não fizer bem as suas entregas.

Basta um músico desafinado para comprometer a entrega da orquestra inteira, porque essas entregas são síncronas: todos entregam a música ao mesmo tempo, e a plateia perceberia o erro como um todo, e não como algo individual.

Você já entendeu para onde vou com esta história, né?

Nas organizações, por outro lado, as entregas são assíncronas, o que nos dá a impressão de que o trabalho do outro não impacta tanto assim no meu, nos tornando permissivos com “gente desafinada”.

Imagine se o relatório que você faz no marketing com tanta expertise e dedicação chegasse todo errado e incompleto porque o pessoal da logística emitiu uma carga errada?

Imagine se você, do comercial, fosse mal avaliado pelo seu atendimento ao cliente porque alguém do RH não conferiu os descontos e a folha de pagamento dos colaboradores do mês foi errada. 

Imagine perder toda a apresentação que você passou uma semana preparando porque as pessoas não estão fazendo a separação do lixo reciclável de forma correta?

Parece loucura, eu sei, mas nossas relações de trabalho seriam completamente diferentes se a percepção do impacto das entregas individuais em relação ao todo fosse mais imediata. 

Nos sentamos ao lado de pessoas sem qualificação, sem competência ou sem preparo (boas pessoas, ok? Nada pessoal), para entregar um bom trabalho, e não fazemos nada porque o trabalho delas não parece afetar as nossas entregas diretamente.

“E o que eu poderia fazer?” você me pergunta. O mesmo que os músicos da orquestra: ajudar. Ajudar os colegas a se desenvolverem, não de forma impositiva, agressiva ou punitiva, mas com a generosidade de quem quer o bem do outro, que vai se tornar o bem do setor, que vai ser o bem da organização, que vai respingar em você e no bem de todos.

“Ah, mas isso não é problema meu.”

Se você pensa assim, não se preocupe. Não é, mesmo.