🔗 Você está certo.

Você está certo.

Poucas frases são tão sedutoras quanto essa. Todos nós temos, em maior ou menor grau, a necessidade de ver nosso ponto de vista validado. E quando essa necessidade vem acompanhada da crença de que, para eu estar certo, o outro precisa estar errado… ah, aí é quase irresistível: “Viu? Eu sempre soube que eu estava certo e fico imensamente satisfeito por você, finalmente, reconhecer isso.”

O que poucas — bem poucas — pessoas percebem é o quanto é fácil manipular alguém que precisa estar certo. Basta dizer: “Você está certo”, e observar a satisfação quentinha tomando conta do seu ego.

Um dos segredos das boas relações está justamente aí: identificar o que o outro precisa ouvir e, deixando de lado o meu ego, entregar isso a ele. Simples. Mas definitivamente não fácil. Requer maturidade e autocontrole para abrir mão da vontade de vencer e do meu ego.

No entanto, quando identifico alguém carente dessa afirmação, o jogo muda. A partir daí, é simples e fácil, sim. E meu repertório é vasto:

  • Você está certo.

  • Agora entendi teu ponto. Tens razão.

  • Eu não havia pensado por esse ângulo. Você está corretíssimo.

  • Olha… agora que você falou, faz todo o sentido.

  • Ah, claro. Desculpe. Eu estou errada e você está certo.

“Mas Sheila, a pessoa está errada!”

Talvez. Mas se ela precisa estar certa, vai lutar com toda a sua inteligência, energia e motivação para te provar isso. E aí, pense no desgaste. Não haverá espaço para diálogo, troca de ideias, construção conjunta ou solução de problemas. Nada disso existia desde o início. Ela precisava estar certa, lembra?

No ambiente profissional, esse entendimento é ainda mais importante. Precisamos distinguir dois cenários:

  1. A pessoa está errada sobre algo que impacta diretamente os resultados.

  2. A pessoa precisa estar certa sobre um tema aleatório (o que, convenhamos, acontece em 99% dos casos).

No primeiro caso, a conversa deve seguir com argumentos, dados e fatos. Sem mistério. A lógica, a racionalidade e o foco nos objetivos conduzem o conflito até a melhor decisão para a organização.

No segundo caso, talvez baste um “você está certo” para economizar tempo, energia e preservar a relação.

Em conflitos entre áreas, essa habilidade se torna ainda mais valiosa. Muitas vezes, o embate não é sobre quem está certo, mas sobre visões diferentes baseadas em prioridades distintas. O time de vendas quer agilidade, o de compliance quer segurança, o financeiro quer controle, o marketing quer visibilidade — todos têm razão dentro do seu contexto. Insistir em estar certo pode apenas aprofundar o abismo entre as áreas. Já, reconhecer a lógica do outro lado e buscar um ponto de equilíbrio abre espaço para soluções mais integradas e eficazes. Nesse cenário, “você está certo” pode não ser uma rendição, mas um atalho no processo.

Então, da próxima vez que se deparar com alguém que precisa desesperadamente estar certo, pergunte-se: “O meu ego ou o dele?” Nem toda batalha precisa ser vencida — especialmente quando o verdadeiro ganho está em saber quando não lutar. Saber ceder não é sinal de fraqueza, mas de inteligência emocional. E, ironicamente, quem domina essa habilidade é que está verdadeiramente certo.